Data: 2013-03-27 02:00 AM
Orador/Formador: Pedro Lopes da Cunha e Margarida Antunes
Local: IPMA Algês Lisboa
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O Laboratório Nacional de Energia e Tecnologia Industrial, fundado no início dos anos 80, tendo como missão básica apoiar a indústria nacional, tinha também uma componente de estudos ambientais. Esta componente apesar da sua natureza iminentemente transversal tinha uma representação mais concentrada no Núcleo de Estudos de Impacto Industrial. Este Núcleo englobava; química analítica, bentos, plâncton, e ictiologia. Esta apresentação referir-se-á apenas a esta última componente a qual a par da química foi a que continuou em actividade durante mais tempo.
O primeiro estudo foi efectuado na Central Térmica de Setúbal entre 1982 e 1984, tendo os signatários iniciado a actividade em 1983 e 1984. O objectivo deste estudo era avaliar o impacte da central no meio nomeadamente no que se refere ao arrastamento ("impingment") de organismos do estuário do Sado. As colheitas de peixes foram efectuadas exclusivamente nos tambores filtrantes do sistema de arrefecimento da central. Das 55 espécies de peixe capturadas predominaram largamente o biqueirão (86,3%) e os juvenis de sardinha (6,6%).
Em 1985 e 1986 foi efectuado um estudo de base na Lagoa de Albufeira incluindo capturas de peixe com arrasto de vara e chinchorro. Sendo esta lagoa caracterizada por um denso coberto vegetal não é de estranhar que as espécies mais comuns fossem os labrídeos a par da enguia, de Gobius niger e de Atherina boyeri.
Entre Abril de 1985 e Abril de 1986 foi efectuada a caracterização ecológica da Ria de Alvor tendo sido efectuadas colheitas mensais de ictiofauna com arrasto de vara e chinchorro. Sendo uma zona estuarina fortemente assoreada havia necessidade de proceder a dragagens a fim de melhorar as condições de navegabilidade. Entre outros aspectos pode referir-se a importância de várias espécies de sparídeos durante a Primavera e Verão.
Em Setembro de 1986 a Setembro de 1987, foi estudada a zona costeira, entre os rios Mondego e Lis, com o objectivo de avaliar o impacto das fábricas de pasta de papel Celbi e Soporcel situadas em Leirosa. Nas colheitas efectuadas com arrasto de portas foram mais abundantes a faneca, o carapau e a sardinha. Deve ainda referir-se a presença de peixe-aranha (Echiichthys vipera) próximo da costa (1/4 de milha) e Arnoglossus laterna nos arrastos efectuados a 1 milha da costa.
De 1987 a 1989 foi efectuado o estudo da ictiofauna do estuário do Sado baseado em colheitas com arrasto de vara, num total de onze estações de colheita. Os aspectos mais salientes foram a riqueza da zona de Tróia onde existe densa cobertura vegetal e o enriquecimento orgânico da zona próxima do efluente urbano de Setúbal onde predominaram de forma muito clara Callionymus lyra, Gobius niger e Arnoglossus thori. Note-se que esta última espécie era considerada rara na nossa costa.
Em 1994 foi efectuado novo estudo na Central Térmica de Setúbal, incluindo desta vez colheitas com arrasto de vara na zona fronteira a este empreendimento. A colocação de um sistema de redes na zona de admissão do canal de tomada de água revelou-se bastante eficaz diminuindo de forma clara quantidade de peixe arrastado pelo sistema de bombagem de água.
A partir de 1995 voltou a ser efectuado o estudo da ictiofauna a sul da Figueira da Foz após a construção de um emissário submarino para rejeição dos efluentes das fábricas Celbi e Soporcel. As capturas de ictiofauna foram efectuadas apenas uma vez por ano em 5 estações de colheita situadas a 0,7 milhas da costa. Apesar das limitações de um plano de colheitas muito reduzido foi possível observar alguma estabilidade dos povoamentos ictiofaunísticos sendo muito clara a importância desta zona costeira, de baixa profundidade, para os juvenis de espécies de interesse comercial nomeadamente, faneca, carapau e sardinha.
Em 1997 foi iniciado o estudo da zona envolvente do emissário submarino da Guia (Cascais) incluindo capturas com redes de emalhar e arrasto de portas de forma muito irregular devido a dificuldades de financiamento. A partir de 2007 as colheitas passaram a ser efectuadas com arrasto de vara com periodicidade mensal. O número de artes de pesca utilizadas, a diversidade de habitats, a diferença de profundidades prospectadas e período alargado em que o trabalho foi realizado permitiu obter exemplares de 110 espécies. Nas redes de emalhar foram mais comuns os sparídeos bem como a faneca o carapau, a cavala e a sarda. No arrasto de portas prevaleceu a pescada (juvenis), Citharus linguatula e de forma irregular o verdinho. No arrasto de vara predominaram as capturas de Arnoglossus laterna e mais na zona do Estoril, Buglossidium luteum e Dicologoglossa cuneata.