2021-09-16 (IPMA)
No dia 16 de setembro de 2021 comemora-se o "Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozono", data que assinala a assinatura do Protocolo de Eliminação de Substâncias que Destroem a Camada de Ozono, em Montreal.
Em Portugal, cabe ao IPMA a observação atmosférica do ozono e da radiação ultravioleta através de três postos situados em Lisboa e nos Arquipélagos da Madeira (Funchal) e dos Açores (Graciosa) - aconselhamos a que assista ao vídeo indicado no final do artigo.
Lisboa possui uma das mais antigas estações mundiais de observação de ozono; estas observações iniciaram-se nos anos 60 do século XX, continuando no presente a ser realizadas com o espectrofotómetro de ozono de Dobson #13 cedido pela International Ozone Commission (IOC). Em 1987 o Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG) adquiriu dois espectrofotómetros Brewer, financiados pela Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT) com o objetivo de reforçar o programa de observação de ozono.
Inicialmente, estes instrumentos foram instalados em Lisboa e no Observatório do Funchal; presentemente, opera um Brewer na Graciosa.
Estes instrumentos permitiram cobrir a totalidade do território nacional e, ao mesmo tempo, uma vasta região do Atlântico Norte que carecia de medições de superfície, contribuindo assim para uma melhor compreensão da dinâmica do ozono estratosférico.
Graças a este protocolo e às suas emendas, foi possível substituir diversos produtos - sobretudo na refrigeração à escala industrial - contendo substâncias que destruíam o ozono, por outras que não o destroem e, permitindo assim, o funcionamento das cadeias de frio, que por exemplo garantem a preservação das vacinas que combatem a atual pandemia COVID-19.
Em 2021, o Protocolo de Montreal continua a manter-nos frescos, e a assegurar a frescura dos nossos alimentos e até das nossas vacinas!
Há 35 anos, na edição de maio de 1985 da revista Nature, os cientistas britânicos Farman, Gardiner e Shanklin reportavam valores extremamente baixos da quantidade total de ozono observados durante os meses de outubro a março na Base de Halley Bay na Antártida.
As medições de ozono efetuadas com o espetrómetro TOMS (Total Ozone Mapping Spectrometer) instalado a bordo do satélite Nimbus-7 da NASA, que até aí tinham sido sistematicamente rejeitadas por serem consideradas extremamente baixas, tiveram de ser reavaliadas desde 1976, mostrando assim a verdadeira extensão do fenómeno observado em Halley Bay.
Esta descoberta constituiu um verdadeiro choque para a comunidade científica internacional, pondo a descoberto uma ameaça de proporções globais com consequências a curto-médio prazo, sobretudo resultantes do aumento da radiação ultravioleta à superfície.
Mais tarde, Crutzen, Molina e Rowland, receberiam o Nobel da Química em 1995, pelo seu trabalho onde atribuíam a destruição massiva do ozono à ação dos clorofluorcarbonos (CFCs) de origem antropogénica.
Desde essa altura, em todo o mundo foram tomadas medidas para reforçar as medições de ozono com vista a compreender melhor este fenómeno.
Sob a égide do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUA) produziram-se negociações que levaram à declaração política em 1985, da Convenção de Viena; esta convenção foi seguida, em 1987, por um acordo de ação internacional, o Protocolo de Montreal. O Protocolo foi um êxito; estima-se que até 2009, se tenha eliminado o consumo de cerca de 98% dos produtos químicos nocivos para o ozono; estima-se ainda que mais de 250 milhões de casos de cancro da pele e cerca de 50 milhões de casos de catarata terão sido evitados até o final do século.
Desde a década de 80 que a estratosfera tem arrefecido principalmente devido à diminuição do ozono estratosférico em consequência dos clorofluorcarbonos. No entanto, e à medida que as substâncias nocivas para este composto desaparecem da estratosfera e o ozono apresenta sinais de recuperação, o efeito do arrefecimento radiativo devido ao aquecimento da troposfera poderá ser superior. O aquecimento da troposfera devido ao aumento dos gases com efeito de estufa (aquecimento global) será o principal responsável pelo arrefecimento da estratosfera durante a segunda metade do século XXI
O êxito no cumprimento do protocolo de Montreal bem como a crescente preocupação com o aquecimento global (enquanto aspeto mais mediático das alterações climáticas devido ao aumento dos combustíveis fósseis), contribuíram para uma diminuição do atenção à questão do ozono estratosférico; consequentemente, verificaram-se reduções significativas do financiamento dos programas de monitorização do ozono na última década ficando, por isso, inoperativos muitos dos espectrofotómetros, quer em Portugal quer no resto do mundo.
No entanto, a monitorização atmosférica continua a ser necessária para acompanhar a evolução do ozono na estratosfera e, consequentemente, verificar se as medidas que foram tomadas para a redução das substâncias que o destroem foram realmente bem-sucedidas e acompanhar os efeitos colaterais do aquecimento global.
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