Tempestade Gabrielle - Açores
2025-09-26 (IPMA)
A tempestade Gabrielle: de depressão tropical, a furacão e, por fim, a ciclone póst tropical:
A tempestade Gabrielle, inicialmente designada como depressão tropical (depressão SEVEN) pelo Centro Nacional de Furacões de Miami (National Hurricane Center, NHC) no dia 17 de setembro de 2025 passou, poucas horas depois e no mesmo dia, à categoria de tempestade tropical, com a denominação de Gabrielle, encontrando-se então equidistante das ilhas de Cabo Verde e Porto Rico. Durante o seu ciclo de vida com a categoria de furacão chegou a alcançar um máximo na categoria 4, no dia 23 de setembro. Durante a tarde de dia 25, a tempestade localizava-se poucas centenas de quilómetros a sudoeste da ilha das Flores (grupo ocidental dos Açores), ainda como furacão de categoria 1. Pelas 21 UTC, devido a ter perdido a capacidade de produzir convecção organizada e profunda, e de se encontrar a interagir com uma perturbação de latitudes médias, o NHC alterou a tempestade Gabrielle para a categoria de ciclone póst-tropical, quando se localizava cerca de 250 km a sul das Flores.
A trajetória da tempestade sobre os Açores:
Seguindo as sucessivas localizações do núcleo estimadas pelo NHC, em harmonia com a identificação dos padrões observados pela rede de radares meteorológicos nos Açores, foi possível representar a trajetória aproximada que a perturbação seguiu na sua propagação sobre o arquipélago. Esta trajetória pode ser seguida (figura 1), no contexto do produto radar que mostra a natureza e organização da atividade convectiva (MAXZ, projeção de máximos de refletividade). Verifica-se que o núcleo depressionário seguiu inicialmente um rumo para este (figura 1, confrontar painéis A e B) e, posteriormente, para es-nordeste (figura 1, confrontar painéis B e C). É também visível que entre as 03 e as 09 UTC a perturbação acelerou, vindo posteriormente a desacelerar.
A precipitação mais elevada: 60 mm na estação de Graciosa/aeródromo (Grupo Central):
A precipitação associada a este sistema foi significativa nos grupos ocidental e central, em especial neste último, tendo no entanto sido modesta no grupo oriental, mais afastado das bandas de precipitação da tempestade. No grupo central, durante o período mais precipitante de 6 horas de dia 26, foram registados mais de 60 mm na estação de Graciosa/aeródromo, tendo os restantes valores sido, em geral, da ordem de 30 mm ou inferior. A observação com radar (figura 2) mostra um padrão de precipitação acumulada que é consistente com este valor máximo relativo da estação mencionada, neste período. No grupo ocidental o valor mais significativo de precipitação acumulada que foi observado durante o mesmo período de 6 horas, igualmente o mais precipitante na área, foi o da estação de Morro Alto (situada a quase 900 m de altitude), que registou o valor de 51,6 mm. No grupo oriental os valores acumulados durante o período de 6 horas com mais precipitação foram, geralmente, inferiores a 15 mm.
A rajada de vento mais intensa: 154 km/h na estação da Horta/Princípe Alberto do Mónaco, Faial (Grupo Central):
O parâmetro mais relevante associado à tempestade Gabrielle foi o do vento. Neste caso, o grupo central foi o que de modo mais generalizado esteve sujeito a escoamentos mais fortes, quer quanto ao valor do vento máximo instantâneo (rajada), quer quanto à persistência do vento médio. Foi igualmente neste grupo que se observaram os valores mais altos neste episódio, entre estações situadas a baixa altitude. Com efeito, a estação da Horta/Princípe Alberto do Mónaco, praticamente ao nível do mar, registou 146 km/h (entre 04 e 05 UTC) e 154 km/h (entre 05 e 06 UTC). Também na estação de Santa Bárbara (propriedade da Camara Municipal de Angra do Heroísmo) foi observado o elevado valor de 185 km/h (entre 04 e 05 UTC), mas a maior altitude. Outras estações neste grupo registaram vento máximo instantâneo entre 100 e 120 km/h. Este comportamento era expectável em função da maior proximidade deste grupo à trajetória do núcleo da tempestade, caraterizado por maior gradiente de pressão (figura 1). No grupo oriental os valores da rajada situaram-se, em geral, abaixo de 100 km/h.
Como provável resultado da interação entre a tempestade de génese tropical e uma perturbação de latitudes médias, ter-se-á produzido uma, ou várias, correntes de jato muito fortes, algumas a baixa altitude, conforme evidência observacional extraída do radar da Terceira. Este fenómeno terá justificado os elevados valores observados na estação da Horta. Valores igualmente elevados, observados pelo mesmo radar, são coerentes com o referido valor observado na estação meteorológica de Santa Bárbara.
Imagens associadas
Figura 1: trajetória da tempestade sobre os Açores
Figura 2: precipitação acumulada (mm)
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