Área educativa - Observação de Supercélulas em Portugal continental
Algumas dificuldades na deteção de SC em Portugal continental
A dificuldade encontrada na identificação deste tipo particular de estrutura convectiva no nosso território, decorre de diversos aspetos, alguns dos quais seguidamente discutidos.
Em primeiro lugar, a aplicação do único critério realmente seguro para identificar uma estrutura com comportamento supercelular – o baseado na assinatura dipolar – só é possível até uma distância muito limitada à estação de radar. No caso do IM, essa distância é de 100 km já que é esse o alcance do processamento até ao qual é observada a velocidade Doppler. A distâncias superiores, só podem ser aplicados os critérios dependentes do campo da refletividade.
Por outro lado, os critérios dependentes da refletividade nem sempre são aplicáveis, quer por existir um largo espetro de SC (pelo que algumas não apresentam os padrões esperados ou não seguem o comportamento previsto), quer pelo facto de as SC em geral observadas sobre Portugal continental apresentarem dimensões substancialmente inferiores às de outras áreas geográficas. Este último facto, embora independente do seu potencial destrutivo, condiciona a sua deteção.
O referido espetro de SC inclui as chamadas supercélulas LP (low precipitation), que produzem pouca precipitação, as supercélulas HP (high precipitation), suscetíveis de produzir cheias repentinas e as designadas por supercélulas clássicas. Outro tipo de classificação inclui supercélulas de topos baixos e supercélulas de topos elevados. Estas referências mostram claramente que uma supercélula não é, necessariamente, uma célula convectiva que produza sempre muita precipitação ou que tenha topos muito elevados. Além do mais, as suas características variam sazonalmente.
Para a área de cobertura da rede nacional de radares não se dispõe, ainda, de séries observacionais muito extensas de SC. No entanto, estudos já desenvolvidos no IM parecem apontar para uma situação semelhante à observada noutras áreas do globo, como na costa ocidental dos EUA. Com efeito, no território do continente têm sido observadas estruturas com escala espacial horizontal mais reduzida (50% da escala característica de SC dos estados do Midwest, EUA), topos menos elevados, níveis de refletividade mais reduzidos e ciclos de vida mais curtos do que os correspondentes a SC clássicas, o que leva a designá-las, mesmo na literatura científica, por “mini SC”.
No entanto, esta designação é enganadora, uma vez que as caraterísticas correspondentes a estas formas de organização convetiva de menor dimensão, não permitem pressupor, necessariamente, menor intensidade nos fenómenos meteorológicos que têm potencial para desenvolver.